A SEXUALIDADE INFANTIL NAS FASES: ORAL E ANAL
Diane Leonor Hazan do Prado
Naiara Francisca Viana
Natasha da Silva Neves
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo compreender as fases psicossexuais oral e anal por meio da observação de experiências vividas no desenvolvimento infantil utilizando-se também de pesquisa bibliográfica. Por meio deste estudo foi possível conhecer teoricamente junto com as vivências como se dá o desenvolvimento sexual da criança e a importância que esse período de dúvidas e medo pode ter no desenvolvimento da personalidade de cada um. Para a realização desta pesquisa levantou-se os seguintes objetivos: descrever o processo psicossexual infantil na fase oral e anal; e observar pessoas próximas com crianças que estão nessas fases de desenvolvimento contextualizando com a teoria.
INTRODUÇÃO
Diante do exposto o objetivo do trabalho foi observar crianças que estão na fase oral e anal e relacionar com a teoria da sexualidade infantil. Inicialmente será apresentada uma breve bibliografia sobre a sexualidade infantil a partir dos postulados freudianos explicando as fases oral e anal que foram observadas. Usou-se como instrumento norteador metodológico a observação participante e o estudo bibliográfico que proporcionou a coleta de informações e a análise dos dados coletados.
As observações ocorreram por meio de vivências com crianças que estavam nas fases oral e anal do meio social das acadêmicas. Por questões legais, não foi possível ir a instituições infantis como creche para fazer uma observação prática de crianças nessas fases, pois era necessária a autorização dos pais e isso decorria de tempo e um processo legal para a utilização dos dados.
FASES PSICOSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO
À medida que um bebê se transforma numa criança, uma criança em adolescente e um adolescente em adulto, ocorrem mudanças marcantes no que é desejado e em como estes desejos são satisfeitos. As modificações nas formas de gratificação são os elementos básicos na descrição de Freud das fases de desenvolvimento. Freud usa o termo fixação para descrever o que ocorre quando uma pessoa não progride normalmente de uma fase para outra, mas permanece muito envolvida numa fase particular. Uma pessoa fixada numa determinada fase preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples ou infantis, ao invés dos modos adultos que resultam de um desenvolvimento normal. (RAPPAPORT, FIORI, DAVIS, 1981).
FREUD E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA SEXUALIDADE INFANTIL
De acordo com Rappaport, Fiori e Davis (1981 p. 33) a organização da libido forma-se em torno de uma zona erógena, dando uma fantasia básica a modalidade da relação com o objeto. A libido é uma energia voltada para a obtenção de prazer, e é nesse sentido que a fase do desenvolvimento infantil busca explicar onde está localizada sua zona erógena.
A sexualidade não é vista em seu sentido restrito usual, mas engloba todas as ligações afetivas estabelecidas desde o nascimento até a fase adulta. Todas as zonas erógenas se organizam em torno da parte do corpo mais erógeno, e não necessariamente na parte genital, logo se cria um ponto de fixação, ou seja, em um momento paramos para satisfazer nossos desejos a fim de não gerar angústia, pois podem implicar em relações de temor ou destruição. (RAPPAPORT; FIORI, DAVIS. 1981). O Ego então se tornará mais frágil em seu processo evolutivo, pois ele regride exatamente onde tem muita energia como um modo de defesa, passando a relacionar-se com o mundo através dessa defesa.
O homem durante toda sua caminhada encontra-se em constante transformação, e isso inclui o desenvolvimento da sua sexualidade. Este referido estudo será adotado os estudos de Sigmund Freud a partir de autores que se basearam nele para falar sobre o processo da sexualidade infantil. Os estudos de Freud foram fundamentais para que hoje seja reconhecido que a sexualidade está presente também na infância, neste contexto Freud diz:
Freud diz: Mas, agora sim, estou realmente certo do espanto dos ouvintes: “existe então- perguntarão- uma sexualidade infantil?” “A infância não é, ao contrário, o período da vida marcado pela ausência do instinto sexual?” Não meus senhores. Não é verdade certamente que o instinto sexual, na puberdade, entre no indivíduo como, segundo o Evangelho, os demônios nos porcos. A criança possui, desde o princípio, o instinto e as atividades sexuais. Ela os traz consigo para o mundo, e deles provêm, através de uma evolução rica de etapas, a chamada sexualidade normal do adulto. Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, deixa-las passar desapercebidos ou incompreendidas é que é preciso considerar- se grave” (FREUD, 1970, p.39;40 apud NUNES; SILVA, 2000, p.46)
Freud considerava que a criança já nascia com o que ele chamava de “germes de movimentos sexuais”, e que esses “germes” passam a evoluir de acordo com o desenvolvimento da criança, até que “em algum período da infância sofra repressões progressivas com algumas interrupções pelo próprio desenvolvimento particular do indivíduo”. (NUNES; SILVA, 2000, p. 48). Desse modo, Freud apresentou as fases psicossexuais, na qual mostrou que o desenvolvimento do ser humano se dá por estágios que foram denominados de oral, anal, fálico, período de latência e por último o estágio genital.
Fase Oral
No Estágio Oral surge a dependência, pois a criança neste período é quase que totalmente dependente da mãe, já que é ela quem o alimenta e protege do que lhe possa fazer mal. Esse sentimento de dependência pode permanecer durante as fases psicossexuais e no decorrer de sua vida. Freud acreditava que o maior nível de dependência é quando se é desejado à volta para o útero da mãe. (HALL E LINDZEY 1984, p. 40-41).
A fase oral subdivide-se em: oral de sucção, que corresponde a um período de relações afetivas pré-ambivalentes, aproximadamente no primeiro semestre de vida, que vai do nascimento até o período inicial da dentição. Ao nascimento da dentição surge a outra subdivisão chamada oral sádico-canibal, nessa fase surge agressão e a destrutividade concreta da criança, onde começará a fazer as suas percepções do objeto inteiro, ou seja, surge a ambivalência do objeto desejado, em que este será percebido como bom e mal (RAPPAPORT, 1981).
Correlacionando a teoria podemos citar o exemplo de D. mãe de J., onde no período de aproximadamente 2 e 3 meses, não foi possível amamentá-lo exclusivamente no seio materno, necessitando assim a introdução de mamadeira para o processo de alimentação da criança. Ao amamentá-lo a mãe fazia questão de dar a mamadeira com o bebê no colo onde o acariciava e conversava carinhosamente com a atenção totalmente voltada a este. Neste exemplo podemos perceber a primeira fase libidinal da criança que apesar de não ser o seio da mãe o objeto principal de alimentação, mas a mamadeira era introjetado a primeira relação de amor entre mãe e bebê através do vínculo que a genitora tinha com ele.
Diante do exemplo citado acima, Rappaport (1981, v.2, p.38) cita:
O relacionamento com a mãe é primordial qualitativo. Não importa apenas dar o seio. O que importa é como o seio é dado, como as solicitações paralelas da criança são atendidas, ou seja, não se está apenas incorporando o leite da mãe, mas também a sua voz, seus embalos e suas carícias. (...) Mamar deve ser acompanhado de um ritual prazeroso de conhecimento de uma figura amada e permanente.
O processo de sucção na fase oral não é somente importante para a sobrevivência fisiológica do indivíduo, mas também para as primeiras relações afetivas da criança, aonde a mesma irá experienciar seus primeiros vínculos afetivos.
Fase Anal
O Estágio Anal ocorre aproximadamente dos 18 meses aos 3 anos de vida da criança, e é nesse estágio que após ocorrer a digestão dos alimentos, os mesmos ficam acumulados no intestino, para depois ser expelido. As fezes quando são expulsas levam junto o que dá desconforto promovendo certa sensação de alívio ao sujeito. Os esfíncteres começam a ser controlados a partir dos dois anos de vida, e é nesse momento que a criança tem a sua primeira experiência de decidir o controle de um impulso que vem de seu próprio instinto, pois ela começa a aprender a controlar sua necessidade de aliviar as tensões anais.
O primeiro período da fase anal é caracterizado como a fase da expulsão, dando como mecanismo defensivo básico a projeção. A segunda fase é a da retenção, dando como modalidade defensiva os mecanismos de controle racionalização, intelectualização, formação reativa, isolamento (RAPPAPORT, 1981, v.3, p.5). Nessa fase a libido é deslocada para as atividades anais.
Este período é caracterizado pelo autodomínio e socialização da criança, pois nessa fase ocorre a explosão muscular e movimentação infantil. A criança começa a dar seus primeiros passos podendo se dirigir às pessoas de sua convivência formando assim, suas primeiras interações sociais. Ainda nessa fase, aprende a dizer não onde se delicia aceitar e recusar definido assim suas escolhas (RAPPAPORT, 1981, v.3, p.1).
O modo como à criança é educada e o jeito que a mãe encara as situações de proscrição das fezes pode produzir nas crianças efeitos que dizem respeito com a formação de valores (HALL; LINDZEY,1984, p.41). Podemos trazer como exemplo, a história de W. que, quando tinha aproximadamente 2 anos, aprendeu a tirar a frauda. Em duas situações, após defecar, tirou a frauda e começou a brincar com as suas produções. Os pais a explicaram que não podia ficar brincando com as fezes e que se tivesse uma terceira vez seria punida. Em outro momento, W. após ter defecado, tirou a sua frauda e pegou a carteira de seu pai e espalhou nas suas produções, brincando até que a visse. Após o pai perceber o seu feito, a disciplinou severamente. Na vida adulta W. tem dificuldade de evacuar e realizar suas produções.
Rappaport (1981, v.3, p.5) explica que nessa fase as crianças começam a perceber como o mundo receberá as suas produções e diz que socialização e a internalização de valores estarão ligados à receptividade que seus produtos terão no mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos estudos acerca das fases psicossexuais freudianas, pode-se notar a importância de conhecê-las e respeita-las. Pois, é nesse período em que as crianças começam a aprender a introjetar suas primeiras representações afetivas, como também, a elaborar e projetar suas primeiras produções sociais.
Percebe-se que a passagem por essas fases é inevitável na vida de todos, visto que estes períodos fazem parte do desenvolvimento físico e psicológico do individuo. Portanto, quanto mais conhecimento se tiver sobre a psicossexualidade infantil, mais fácil será lidar com as questões sexuais da criança. Visto que, se entende que a sexualidade infantil não é algo ligado ao sexo em si, mas às organizações de libido em regiões erógenas e as consequências das mesmas na elaboração mental do ser.
REFERÊNCIAS
FREUD, S. A sexualidade Infantil. Disponível em: https://www.portalgens.com.br/filosofia/textos/a_sexualidade_infantil_freud.pdf. Acesso em: 05/12/2017.
HALL, C. S; LINDZEY, G. Teorias da personalidade. São Paulo, E.P.U., 1984.
NUNES, C. A educação sexual da criança: subsídios teóricos e propostas práticas para uma abordagem da sexualidade para além da transversalidade. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2000.
RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W.R.; DAVIS, C. Psicologia do Desenvolvimento. A infância inicial: o bebê e sua mãe. v.2; São Paulo, EPU,1981.
RAPPAPORT, C. R.; FIORI, W.R.; DAVIS, C. Psicologia do Desenvolvimento. A idade pré escolar. v.3; São Paulo, EPU,1981.