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TrabGrupo3 - FASE GENITAL ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE

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RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE HUMANA NA FASE GENITAL – ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE

Aimée Cruz Silva

Carina Paes Campos

Graciele Cristina Vasconcellos Braga

Priscila Guedes Nogueira

Sara Victor Pereira

 

 

Resumo

Este trabalho tem como objetivo discorrer a respeito do  desenvolvimento psicossocial na adolescência  proposto por Erick Erickson, com foco na sexualidade humana, e analisar quais influências vivenciadas por cada um nesse período. Para tanto, foram feitas entrevistas semiestruturadas com quatro participantes com faixa etária de 16 a 20 anos. A adolescência é uma fase de muitos conflitos pessoais e sociais, a literatura demonstra que o adolescente sempre estará em constante desenvolvimento e devido a isso, é considerado que o mesmo ainda não possui autonomia suficiente para constituir-se um ser capaz de ter consciência por seus atos. Dessa maneira, verificou-se que a falta de direcionamento gera desfecho negativo no autoconhecimento de jovens que atualmente refletem realidades dos quais  demostram uma escassa superação da crise de identidade.

Palavras-Chaves: Adolescência, Desenvolvimento, Conflitos, Sexualidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. ADOLESCÊNCIA: ALGUNS APONTAMENTOS

A adolescência é alvo de pesquisa de muitas ciências, em especial da psicologia, que desde início do século XX buscou explicações para essa fase da vida.

Para entender melhor esse conceito será preciso analisar o termo e seu significado. O termo adolescência segundo o dicionário etimológico,

Vem do particípio presente do verbo em latim adolescere, crescer. Já o particípio passado, adultus deu origem à palavra "adulto". Em português, as palavras seriam equivalentes a "crescente “e "crescido", respectivamente. Apesar de consideramos a fase da adolescência uma "invenção sociológica" relativamente recente, a palavra adolescente é cerca de cem anos mais antiga do que a palavra adulto.  (Fonte: Word and Phrase Origins, HENDRICKSON 2008)

Logo, pode-se perceber que os significados carregados por essa palavra indicam crescimento, transformação e por isso conhecemos essas fase como uma transição, pois literalmente, seu significado explicita essa ideia.

Em virtude desse termo muitos autores debruçaram-se sobre o tema. Stanley Hall um expoente psicanalista teve como objeto de estudo a adolescência, o mesmo concebe o fenômeno como uma etapa de perturbações, angustias e florescimento sexual.

Urribarri (2002, p.1) enumerou os aspectos que provocam os desajustes produzidos pelo embate púbere, tais como:

 O reconflito em torno da dependência dos objetos externos. A reativação e o estabelecimento de conflitos de identidade, que também põem em questão sua identidade. A reativação das representações do corpo, e questionamentos de seu esquema a partir da mudança física e, em particular, das novidades que o erotismo genital produz.

 

Segundo (Bock, 2007, p.64) “o grande responsável pela institucionalização da adolescência, foi Erick Erickson.” Apresentou-a a partir do conceito de moratória e a caracterizou como uma fase especial no processo do desenvolvimento, na qual a confusão de papéis, as dificuldades para estabelecer uma identidade própria a marcavam como “[...] um modo de vida entre a infância e a vida adulta” (Erickson, 1976, p.128).

 No Brasil, tivemos autores que escreveram sobre adolescência, como o Içami Tiba, popularmente conhecido por seus livros, mas que assim como os demais também entendia a adolescência como um fenômeno maturacional, um período de conflitos pessoais e sociais.

Oliveira(2007) apresenta em seu trabalho a definição usada por Içami Tiba para adolescência, como sendo segundo parto. Para ele, a experiência da gravidez vivida pela mãe e acompanhada à distância pelo pai, são fatores parecidos com o que acontece nessa faixa-etária. O filho e a filha buscam identidade própria, procurando entender o que está acontecendo com seu corpo.

Kimbanda (2006) Observou que em tribos primitivas a iniciação sexual assim como, a divisão de tarefas dentro de um clã começava na adolescência, em uma faixa etária de aproximadamente 14 anos.

Em Angola, por exemplo, a iniciação é praticada por vários grupos: Ganguela, Tshokwe, Nhaneka-Humbe, Ambó. A menina deve ser iniciada quando lhe aparece a primeira menstruação. Em alguns grupos, iniciam-nas antes e, noutros, depois de passar dois anos ou mais; associam-na, ainda, ao contrato matrimonial. (KIMBANDA,2006, p.118)

 

Fiori e Davis (1982) escreveram sobre o desenvolvimento da adolescência e a intervenção cultural nas emoções.

Nos grupos tribais, ou historicamente diferenciados da cultura ocidental, não ocorre longo período que separa as atividades infantis da plena integração do sujeito ao grupo produtivo e reprodutor. A criança é tida como tal até que as maturações e alterações biológicas iniciem a puberdade e caracterizem sua passagem para o grupo adulto. Normalmente nestes grupos há um ritual de passagem, às vezes antecedido por um período de recolhimento, que caracterizará a entrada nas relações adultas.(FIORI e DAVIS,1982,p.11)

 

Durante anos, verificou-se que em diferentes culturas a adolescência é definida mediante as exigências históricas.  As contribuições de Leontiev deixam evidentes tais fatos, “Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico pela sociedade humana” (Leontiev,1978, p.267).

Hoje, temos acesso a diferentes formas de acesso a informação, e isso contribuiu para transformação do adolescente e seu papel na sociedade. Porém, mesmo com todo esse avanço possibilitado pela tecnologia, muitos jovens ainda acreditam que esse momento da vida é um obstáculo que necessita de grandes desafios. Tudo isso dificulta não só a compreensão dos mesmos ao enfrentarem as demandas da vida assim como, seus pais que não encontram medidas práticas, justificando determinadas atitudes.

Compreendemos, portanto a adolescência, assim como qualquer outra fase do desenvolvimento humano, têm suas dinâmicas permeadas pelo meio. Compete a nós mantermo-nos atualizados para lidar com estas mudanças, pois caso contrário incorreremos em pré-conceitos e julgamentos erróneos. (MAFFEI,2008, p.167).

 

Em face dessa variedade de entendimentos da adolescência, adotamos, para esse artigo a perspectiva Psicossocial do desenvolvimento que apresenta contribuições significativas para compreensão dessa etapa sob ótica de Erick Erickson. No decorrer do mesmo, buscamos considerar o contexto psico-social que premeiam as relações dos jovens que foram entrevistados, considerando também a visão maturacional e biológica  na confecção do roteiro de entrevista, visto que há um junção deste elemento sobreposto na  teoria Psicossocial de Erickson.

 

  1. ADOLESCÊNCIA ENQUANTO FASE DO DESENVOLVIMENTO: PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PSICOSSOCIAL.

 

O desenvolvimento psicossocial defendido por Erick Erickson decorre da compreensão do comportamento humano para além das funções integradoras biológicas e instintivas, busca incluir as variáveis sócio-históricas na tentativa de romper com importância dada por Freud a infância como definidora da constituição do ego do individuo.

Segundo Rabello (2011),a teoria de Erickson descreve desenvolvimento psicossocial do ser humano através de oito etapas dos quais o individuo  vai crescendo a partir das exigências internas do ego, mas também sofre influência das pessoas e meio onde vive, sendo primordial identificar a cultura e sociedade em que o sujeito está inserido para entender as características de cada fase.

Em cada estágio, tem-se uma crise que resultará em um desfecho seja positivo( ritualização) ou negativo( ritualismo).Ambas experiências são essências para construção do ego, visto que as crises podem fortificar ou fragilizar o mesmo a medida em que esse não é superado adequadamente. Quanto mais bem vividas às crises anteriores, ou seja, quando a Confiança Básica, a Autonomia, a Iniciativa e a Dilligência têm desfechos positivos, mais fácil se torna a superação da Crise de Identidade. Lealdade e fidelidade consigo mesmo são características do desfecho positivo desta etapa. (RABELLO aput ERICKSON, 2007)

A partir dessa perspectiva, Erickson(1976) aborda a fase identidade e confusão de identidade, no qual descreve situações psicológicas comuns em adolescentes. E nesse momento o termo crise não vai ter uma conotação desagradável, e sim designar um momento de decisão e direcionamento que adolescente percorre para crescer, diferenciar-se dos demais, bem como assumir compromissos mediante as escolhas significativas. No decorrer dessa fase, haverá constantes conflitos psicológicos com relação à formação da identidade ainda não bem integrada. Com base nisso, o autor escreve:

É um período da vida em que o corpo muda radicalmente de proporções, a puberdade genital muda o corpo e a imaginação com toda espécie de impulsos, a intimidade com o outro sexo se inicia e o futuro imediato o coloca diante de um número excessivo de possibilidades e escolhas conflitantes [...] ele deve fazer uma série de seleções cada vez mais específicas de compromissos pessoais, ocupacionais, sexuais e ideológicos.(ERIKSON, 1976, p. 132-245)

 

Essa fase rendeu mais trabalhos, sendo um capitulo inteiro de seu livro sobre crise de identidade, além das obras  Juventude e crise; O ciclo de vida completo.  Esse período marca o momento onde a personalidade ganha molde à medida que nos reconhecemos através do outro e do autoconhecimento “Quem eu sou”, “Quais meus planos”, evidenciando o surgimento da identidade que conforme (Myers, 1999,p.86) é a reformulação gradativa de uma autodefinição que unifica os vários eus num sentimento coerente e concreto de quem se é.

A aquisição de novas habilidades está relegada a crises vivenciadas durante a adolescência que dará suporte a acumulação de conhecimento para inserir-se na vida adulta. A esse fenômeno Erickson(1976) chamou de “moratória psicossocial” que define períodos fixos pela qual todos durante a vida irão percorrer até chegar a fase adulta. Na fase em questão cada sociedade vai estipular as experiências adequadas para considerar o jovem apto a exercer a vida adulta. Na sociedade Ocidental, temos o advento da escolha profissional e definição ideológica, conforme descreve Erickson:

As instituições sociais amparam com vigor e a distinção da identidade funcional nascente, oferecendo aos que ainda estão aprendendo e experimentando certo status da aprendizagem, uma moratória caracterizada por obrigações definitivas e competições sancionadas, assim como por uma tolerância especial( 1976, p.157)

 

 Logo, o Erickson (1976) vai percorrer sobre como se configura a identidade nessa etapa dividindo em áreas que considerava básica para compreender todo fenômeno.Para Parrot(2003) a identidade sexual vai ser responsável pela inclusão do jovem em determinados padrões e grupos do quais correspondem representante das mesmas características que possui. Como também, aprender a relacionar as diferenças e conflitos como fora de si, nesta fase o comportamento e as diferenças físicas dos demais não interfere na percepção indivíduo, pois já entende que há uma exclusividade de atributos em cada ser humanos.

A identidade profissional é responsável pelo sentimento de pertencimento e valoração atribuído pelo jovem. Quando opta por alguma profissão sente-se independente, confiante para alavancar nas próximas fases proposta pelo autor. “Produzir e construir fora é para o adolescente um elemento compensador de suas falhas” (Parrot, 2003, p. 31).

 Já identidade ideologia implica na continua restruturação interna, pois à medida que o adolescente posiciona-se diante do mundo, consegue assimilar conhecimentos e introduzir no referencial pessoal ideologias politicas, religiosas e espirituais do grupo social do qual faz parte.

  O que a literatura demonstra sobre a teoria é que o adolescente sempre estará em constante desenvolvimento e devido a isso, não tem autonomia o suficiente para constituir-se um ser  capaz de ter consciência por seus atos. Portanto, há muitas criticas a esse ponto de vista, Segundo Pereira(2007,p.4) entendemos que ao se compreender o jovem como alguém que “ainda não é” estamos negando a sua condição histórica. Todo o jovem tem uma história de vida que começou a ser construída na infância e que resulta em sua personalidade singular.

Partindo desse pressuposto, outros autores expoentes da psicanálise compartilhavam do posicionamento teórico defendido por Ericsson a respeito da adolescência como Anna Freud, G.Stanley Hall. Pereira(2007)  atualmente esse modelo vêm sofrendo criticas na foram maturacional de compreender o ser humano, mesmo que considere aspectos sociais como influenciadores, ainda tem concepções deterministas acerca do desenvolvimento humanos.

De forma geral, Erickson trouxe um novo olhar dentro da psicanálise sobre o desenvolvimento humanos, dando enfoque a adolescência e não tanto a infância. Notou que todas as fases têm barreiras a serem enfrentadas para se ter um ego saudável, logo propôs uma entendimento dos conflitos cotidianos em cada faixa etária e como este é absorvido e perpassados através da capacidade humana de planejar o futuro, fator especifico da fase do qual o artigo retrata.

 

 

  1. MÉTODO

O determinado estudo teve cunho descritivo, com a coleta de dados tanto quantitativos como qualitativos. O propósito do mesmo é de buscar conhecer a vivência e as opiniões de cada participante e assim corroborar com a temática do desenvolvimento da sexualidade humana na fase genital, na adolescência e juventude.

 

3.1 Participantes

            Tivemos a amostra de quatro adolescentes e jovens, com idades variando de 16 a 20 anos, de ambos os sexos.

 

3.3 Instrumentos e análise dos dados

            Utilizou-se uma entrevista não padronizada, na qual os entrevistados relatavam suas experiências e concepções sobre os diversos contextos da sexualidade. Os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo, no qual tem objetivo de conhecer os discursos de cada pessoa a fim de categorizá-los e dá sentido aos seus discursos.

 

  1. RESULTADOS

 

Segundo o site A mente é maravilhosa publicaram um artigo com a seguinte temática, você sabe o que é sexualidade? (2015) retrata que o ser humano tem sua unidade biopsicossocial que possui três aspectos fundamentais da sexualidade que devem ser analisados em conjunto. O primeiro fator é a sexualidade a partir do biológico, não é especificamente o órgão sexual ou somente a reprodução, é o conceito mais abrangente. O esquema do corpo é integrado no seu todo e dessa maneira, somos seres sexuais desde a fase da infância, adolescência, na adultez e na velhice. O segundo fator é a visão do social sobre a sexualidade, de acordo com aquisição de costumes e do comportamento aprendido do individuo no contexto histórico que está inserido, as crenças são modificadas e em relação a sexualidade não é diferente. Somos influenciados de todos os lados, na politica, na religião e na cultura em si em cada especificidade.

Sendo assim, o processo de socialização para viver a sexualidade é de uma maneira diferenciada para cada individuo, pois os conhecimentos que são internalizados nos ajuda a adaptar a partir de nossas vivências e da maturação da personalidade de cada um. Por fim, o terceiro fator é a sexualidade a partir do psicológico, se caracteriza pelo os pensamentos, fantasias, atitudes e tendências. Ou seja está relacionado as crenças, o prazer, o resultado das vivências, aquisição de conhecimentos e com os sentimentos que sentimos consigo mesmo e com os outros. Assim, constata-se que cada ser humano possui a sua singularidade e nossos sentimentos e emoções são sentidos de uma determinada forma, apesar da situação ser a mesma. Portanto, o que pode ser prazeroso para alguns pode causar repulsa para outros.   

A adolescência é um período de mudanças, é a transição da infância para a vida adulta, um momento de muitas mudanças sendo biológica, social e psicológica, a adolescência é considerada uma fase muito difícil de lidar, pois existem vários conflitos vivenciado nela.

A gravidez na adolescência é considerada um sério problema de saúde pública e com isto exige programas de orientação, preparação e acompanhamento durante a gravidez e o parto, por ser um problema que oferece riscos ao desenvolvimento da criança, bem como riscos para a própria gestante, sendo então na maioria das vezes, não planejada.

Quando a gravidez ocorre durante a fase da adolescência as transformações biopsicossociais podem ser reconhecidas como um problema para os adolescentes, onde precocemente se inicia uma família que afetará a juventude e a possível possibilidade de realizar um projeto de vida estável. A gravidez sendo ela desejada ou não provoca um conjunto de impasses comunicativos a nível social, familiar e pessoal (ARAÚJO FILHO,2011).

Estudos apontam que famílias desestruturadas, crianças ou adolescentes maltratados ou abusados no ambiente familiar, contribuem bastante para o aumento da estatística de gravidez na adolescência.

Através da entrevista realizada com M, uma adolescente de 16 anos que se encontra grávida de cinco meses. Foi possível observar que mesmo nos dias atuais com o avanço da tecnologia e do acesso a informações, ainda existem muitos jovens e adolescentes que desconhecem as formas de prevenções sexuais. No momento da euforia se esquece da prevenção, mesmo tendo acesso gratuito aos métodos contraceptivos. Uma das perguntas feitas a adolescente, foi sobre o acesso a informações de orientação sexual, ela respondeu que já participou de palestras na escola e que os pais também já haviam falado sobre o assunto.

A gravidez na adolescência pode afetar dificultosamente na escolaridade das gestantes, pois muitas deixam de estudar por conta da gravidez, muitas precisam cuidar da criança porque geralmente não tem quem cuide e por muitas vezes acabam deixando de estudar para poder cuidar da criança. A adolescente M, parou de estudar disse que ficou bastante doente durante a gravidez e que precisou faltar por várias vezes e então achou melhor parar de estudar. Mas pretende continuar seus estudos pois no futuro quer ser médica. Segundo alguns estudos, uma gravidez na adolescência caracteriza-se em gravidez de risco, devido aos altos índices de morbidade materno-fetal. Trazendo várias implicações biológicas, que são elas, anemia, desnutrição sobrepeso, hipertensão, pré-eclâmpsia e depressão pós parto. O psicológico também é afetado, pelo fato de que a gravidez nesse momento da vida diminui as oportunidades e impossibilita aproveitar as experiências que adolescência/juventude poderia lhe proporcionar, (TEIXEIRA, 2010).

Nos últimos anos o índice de gravidez na adolescência tem crescido consideravelmente, não somente no Brasil, mas no mundo inteiro (DADOORIAN, 2003). E a pergunta feita é de que forma isso continua ocorrendo se cada vez mais o acesso a informações tem se tornado mais abrangente. A.L. a entrevistada de 19 anos que engravidou pela primeira vez aos 14 anos de idade, menciona que obteve informações relacionada à sexualidade com amigos da escola, lembrando que o termo sexualidade não está ligado somente ao ato sexual mas também à outros fatores como puberdade, por exemplo. A ausência da mãe, segundo a entrevistada, foi um fator muito importante para seu desenvolvimento, as conversas, o esclarecimento das duvidas, não puderam ser tiradas, relatadas, devido a essa falta que teve ser suprida pelo pai, que também não conversou, informou sobre as mudanças que iriam ocorrer e a melhor forma de lidar com elas, ou ao menos tirar as dúvidas.

A maturidade sexual, ocorrida com a puberdade no período da adolescência tem como consequência a gravidez simplesmente pelo fato de que ter relações sexuais sem qualquer uso de método contraceptivo em determinado período resulta em um fecundação. Freud (1905) menciona que essas transformações e mudanças orgânicas geram uma pressão hormonal muito grande, chegando a impulsionar que o adolescente use seu aparelho reprodutor para aliviar essa pressão, dessa forma inicia-se o interesse pelo sexo e como consequência de uma vida sexual ativa, a gravidez.

Um estudo feito por Doering (1989) com adolescentes gravidas mostrou que as que se enquadravam em classe média e eram atendidas em clinicas privadas rejeitavam a gravidez atestando que isso atrapalharia os seus planos, seus projetos e etc. já as adolescentes de classe baixa, atendidas em hospitais públicos, alegaram que gostavam de criança, demonstrando uma aceitação bem maior pela maternidade. O que mostra que maioria das adolescentes de classe média não veem a maternidade como prioridade, o que já ocorre muita das vezes com adolescentes de classe baixa, que é o caso da entrevistada A.L que relata que não tem perspectiva de futuro, que só quer ser uma boa mãe, que zela pela saúde dos filhos, demonstrando ver a maternidade como uma perspectiva de vida. Também foi abordado na pesquisa o fato de que a gravidez, o uso do aparelho reprodutor trás para a adolescente um novo status, o de ser mãe, mulher, e que isso implica que são agora, não mais adolescentes, mas, adultas.

De acordo com Blos (1998 apud OLIVEIRA, et al., 2003) na fase final da adolescência a profissionalização é o processo mais marcante para a consolidação dos interesses do ego. Moreira, 2001 apud.. ainda afirma que toda a curiosidade, criatividade e espontaneidade são necessárias para canalizar a uma opção profissional criativa. A visão particular da escolha profissional de cada jovem expressa a maneira como avaliou o passado, presente e assim, criando meios para as projeções do futuro.

A entrevistada A. S. que tem 20 anos, do sexo feminino, solteira, de classe baixa e atualmente está desempregada. Quando perguntada sobre os projetos de vida para o futuro relata o seguinte:

“Estudar e passar em medicina. Eu pretendo quando durante o curso entrar na iniciação cientifica descobrir algo que ajude a humanidade. Quando terminar a graduação quero ir nesses países necessitados e ajudar voluntariamente. também contribuindo em dinheiro para Ongs, pessoas que passam necessidades, com roupas, alimentação e também de pagar um curso de medicina para alguém que é esforçado e não tem condições de bancar. Porque eu queria que alguém fizesse isso por mim, então se eu tiver condições vou fazer isso por alguém [...]”

 

 

Diante da análise desse trecho da entrevista, podemos verificar que a jovem está no processo de busca da identidade ocupacional, que segundo Bohoslavsky e Moreira (1998; 2001;. apud OLIVEIRA, et al. 2003) tem as mesmas dificuldades da construção da identidade pessoal. Pois a ocupação é aquilo que o individuo deseja ser e não o que se quer fazer, é o fruto do contexto sócio-histórico-cultural na ligação consigo mesmo. De acordo com seus interesses e aptidões, questões essas que são gerados da interação de uma gama de variáveis como o meio social, o meio familiar e as identificações pessoais. (OLIVEIRA, et al. 2003)

Por fim, de acordo com OLIVEIRA, et al., (2003) que realizou um estudo com 48 adolescentes de diferentes inserções sociais de Brasília. Os resultados demostraram que os jovens desejam ingressar no nível superior, se inserir no mercado laboral por meio de exercícios que tragam satisfação pessoal. Apesar de a situação socioeconômica ser uma grande dificuldade para as pessoas de renda baixa, em um determinado momento todos independente de sua classe social, tem sentimentos de angustias e indecisões para o futuro, só a partir do crescimento do amadurecimento da sua identidade que pode-se conhecer mais as questões que vai ajudar na tomada da decisão para a identidade ocupacional do individuo.

Deparamo-nos com as ideias de Stanley Hall um grande psicólogo, que identifica a adolescência sendo marcada por tormentos e conturbações vinculadas à emergências da sexualidade.

Em conversa com o V. com 19 anos, trouxe o contexto da sexualidade e sua definição dentro dos parâmetros da sociedade e uma perspectiva dele. Ele acredita que é a forma como nos expressamos sexualmente, com ou sem as interferências de fatores sociais, biológicos, políticos, religiosos, etc.

Com isso, Erikson (1976) destaca que é neste período em que os seres humanos se mostram “preocupados com o que possam parecer aos olhos dos outros, em comparação com o que eles próprios julgam ser, e com a questão de como associar os papéis e aptidões cultivados anteriormente aos protótipos ideais do dia”. No caso do adolescente entrevistado, percebe-se que está decidindo sobre o rumo da sua vida, com grande preocupação do que a sociedade irá pensar a respeito dele. Tanto que essa formação da identidade não começa nem termina com a adolescência, mas é nela que acontece a construção.

Acredita que a nossa sociedade a uma grande interferência das religiões, com uma construção histórica que determinou o que é “certo” seria o relacionamento heterossexual entre “macho” e a “fêmea”, com o único objetivo de reproduzir.

Acreditando também que a nossa sociedade vem se destacando com os avanços para todos os lados, até mesmo com a sexualidade, vem tomando consciência da sua tamanha complexidade. Tanto que V. apresenta está em constante busca pela liberdade dos dogmas da sociedade acerca da sua sexualidade. Afirma que não está sendo um processo fácil e requer muita construção pessoal, pois ao mesmo tempo em que tenta entender quais seus desejos e tentando não se rotular, ele lida com pessoas constantemente que tenta minimizar a sua situação.

Tanto que para Hall (1904) a adolescência seria uma experiência comparada a um segundo nascimento, em que o ser humano teria a oportunidade de repassar por todos os estágios anteriores e, obter, com isso, o ápice de seu desenvolvimento, além disso, essa seria uma fase caótica e difícil devido à velocidade com que se dão as transformações. Essa afirmação irá ser reforçada na teoria psicanalista que traz a adolescência como uma etapa de confusões, estresse e luto também causados pelos impulsos sexuais que manifesta nessa fase do desenvolvimento.

Então entendemos que estamos numa geração que é bastante relutante nas questões dos tabus a respeito da sexualidade e entendemos que cada pessoa possui sua singularidade que estão muito longe das questões da heterossexualidade normativa que tem sido imposta em muitas sociedades durante toda história da humanidade. Atualmente conseguimos abordar sobre a homossexualidade, a bissexualidade ou a pansexualidade com naturalidade. Aos poucos, está começando a ser difundida a ideia de que diversidade é liberdade e enriquecimento, algo que incentiva que cada um defina a sua forma particular de orientação afetiva-sexual.

Tanto que ele reforça novamente durante a conversa a respeito da sexualidade, está constantemente em busca da verdadeira identidade, ainda que se identifiquem como homossexual e cis, ainda sim se ver descobrindo mais aspectos sobre seus desejos. Acreditando que o ser humano tem a tendência de classificar as pessoas, justamente como uma forma de buscar entender a si mesmo.

De acordo com Outeiral (1994), traz à tona a questão cultural de ser/estar adolescente e nessa busca de uma definição. O autor, apesar de frisar o fato da adolescência ser um fenômeno psicossocial, e não tem um fim bem definido, divide a adolescência em três fases, sendo a primeira caracterizada pelas transformações do corpo (puberdade); a segunda, pela busca da definição sexual; e a terceira aproximando do que seria o fim da adolescência, destaca a aquisição da maturidade e da responsabilidade social. E ao observar o adolescente entrevistado nos deparamos ainda nessa busca da definição sexual, que é uma fase que deveria ser parte de toda vida do indivíduo, sendo um processo que sofre constantes mudanças.

Tanto que ele tenta viver ao máximo a sua vida, gosta de escutar músicas e assistir filmes que lhe dão determinado prazer e aprendizado em seu dia-a-dia. E sobre questões a respeito do sexo acredita que é superestimado e ainda que uma necessidade biológica para a maioria das pessoas, sendo sempre reforçado como um desejo intrínseco de todos os seres humanos, porém, existe uma minoria de pessoas que não considera o papel do sexo tão importante para o bem-estar e a felicidade das pessoas, pois, existem outras coisas que ele considera mais fundamentais que isso, como por exemplo, o amor, a parceria e a cumplicidade.

Esse fator é bem interessante, o entrevistado traz a respeito de ser assexual na adolescência, já que em todos os livros e outras leituras nos deparamos com afirmação de que o adolescente está em busca dos impulsos sexuais e que nessa fase que o menino e menina irá se desenvolver e terá os primeiros contatos com outros indivíduos e suas relações. Portanto, o que destacamos ao que ele trouxe, é a respeito da falta do interesse sexual. Sendo muito das vezes contextualizado a partir de uma cultura na qual foi criada sendo uma das principais influências nas suas decisões, um exemplo disso, seria um país que estimula a sexualidade, enquanto em outro país pode coibi-la fortemente. Mas o ponto central disso tudo é o que podemos entender se ainda continua tendo a presença ou ausência de sofrimento psíquico e, a partir das teorias psicodinâmicas, da repressão ou não do desejo.

Assim, percebe-se que o entrevistado possui certo sofrimento a respeito dessa assexualidade. Mas não por parte dele e sim do que a sociedade julga e de como é difícil se relacionar com outra pessoa que tem uma vida sexual ativa, sendo que tudo se torna mais complexo ainda.

 

  1. CONCLUSÃO

As entrevistas realizadas com quatro adolescentes e jovens trouxe á luz as vivências e as expectativas de vida para o futuro de acordo com suas perspectivas. Elegemos pessoas entre 16 á 20 anos de idade, uma vez que objetivo do mesmo é a observação do desenvolvimento da sexualidade humana na fase genital na adolescência e juventude, assim podemos avaliar a visão de cada um nos diversos contextos sociais.

Diante das análises de dados podemos constatar que a gravidez na adolescência é o momento muito delicado na vida da mulher, pois acarreta diversas problemáticas tanto no âmbito familiar, nos estudos da adolescente, às vezes na saúde física e principalmente no aspecto psicológico se não estiver preparada para assumir o compromisso da maternidade e de todas as responsabilidades que a gravidez conduz. Depois do nascimento do filho podemos perceber que geralmente a mulher vive ou quer viver em função dele, não possui planos para o seu futuro como pessoa e seus desejos e anseios são deixados de lado. Entretanto, verificou-se diante da visão de uma jovem que seus objetivos de vida estão bem estabelecidos, está em busca da identidade ocupacional e que também está em busca de sua autonomia, é uma fase decisiva e almejada para a realização de si mesmo. Por fim, analisando o último entrevistado podemos pontuar a busca da sua identidade pessoal, está no processo do descobrimento da própria sexualidade, que considera assexualidade como a sua orientação sexual. Em virtude de uma sociedade muito sexualizada é uma passagem difícil e até mesmo dolorosa, principalmente no momento de procurar parceiros que tenham a mesma orientação sexual.

Dessa maneira, concluímos que há uma grande necessidade de projetos no âmbito da sexualidade em geral, tanto no âmbito biológico, como pessoal e psicológico.  Para os adolescentes e jovens nas escolas, projetos esses que realmente esclareça as dúvidas dos alunos e que proporcione um local aberto e acolhedor para seus posicionamentos, sem julgamentos. Além de que a família é um apoio para esses indivíduos, podendo assim criar um espaço de dialogo amplo entre eles e dessa forma, poder orientar da melhor maneira possível nesse período turbulento e decisivo na vida deles. 

 

REFERÊNCIAS:

 

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